Hábitos.

De suas maiores conquistas, destaca-se a razão. Não se importava com o resto, tudo estava na sua mente, ali só pra ele.
Percebeu então que era apenas um jogo, tudo dependia de um bom blefe e saber a hora certa de apostar. Não abriria mão de seu mundo, independente do que estivesse em jogo, pois nunca abriria mão de si mesmo. Sempre observando e calculando, esperava o momento certo de agir, definia metas, policiava expressões e controlava as emoções, sempre estudando seus resultados.
Agia em pouca escala, fazia pequenos testes e tomava nota de anomalias, como ele chamava reações inesperadas, procurando sempre estar preparado para tudo.
Seguiu assim, perdido entre pensamentos turvos e coloridos, lamúrias úmidas e levando nos bolsos sorrisos eternos, manipulando e alterando resultados em favor de seus interesses.
A vida é um jogo, mas ele não se importava em ganhar, queria apenas a alegria do palhaço.
Seguiu então com sua rotina, sendo um livro aberto, onde mostrava confiança, trazendo todos para si, engolindo suas qualidades e defeitos procurando ser perfeito.
Anos se passaram e se tornou um homem, hora inconsequente e inquieto, hora calmo e frio. Mostrava seu sorriso nos momentos certos, era um ombro para chorar, o homem perfeito aos olhos de alguns, para outros, um monstro. Preenchia sua essência com personalidades e jogos, o que mais lhe divertia, buscando sentir-se completo. Fazia rir e chorar, amar e odiar, mas tudo nos limites que impunha, ocupando seu tempo livre.
Sua única dificuldade era em manter seu interesse a longo prazo, sentia que sabia tudo de alguém e largava, buscando o próximo livro, os novos mistérios. Acabou por machucar pessoas no trajeto, mas seus fins justificavam seus meios, apagando o sentimento de culpa. Afinal, ainda era humano e suas lembranças o atormentavam diariamente, odiava ver pessoas chorando e acabava por agir sem pensar, obtendo resultados nunca esperados, o que o empurrava mais e mais.

Continua...

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