Abismo 06.

Ele olhou nos olhos dela e começou a rimar, criando uma música fora do tom, sem sentido. Mal acreditava na inspiração, lhe ofertou uma saída, uma maneira de deixar todo o passado e presente, criando uma nova história, onde somente o amor prevaleceria.
Ele vinha de uma família de classe média, onde apodrecera por anos, perdido entre querer'es e comprar'es, nunca havia amado, nunca soubera o que é sentir-se. Ela vinha de baixo, sem a certeza de acordar no dia seguinte, buscando respostas e lutando para não ser dominada pelo medo.
Ele começou a cantar e um sorriso se formara em ambos os rostos, ela se sentia importante, pela primeira vez. No centro do universo, ela tinha medo ser engolida pelo vício da cidade, onde o estress anda de mãos dadas com a cocaína, ele apenas temia viver com os pais por mais um ano. Ela sentia a dor de não ter, ele de nunca ser, e todo o resto era apenas uma maré de indiferença e violência. No frio da madrugada ele dizia que nada poderia piorar, enquanto ela somente ria e observava, a miséria andara lado a lado com ela por anos, mas a esperança sempre fora sua aliada.
A solidão o levou pela existência até tentativas de suicidio. Foi aí que no hospital ele a conhecera, lindos olhos verdes e lábios volumosos. E naquela madrugada ele acordaria deste belo sonho, envolto em vômito e mal-estar, mais uma falha.
E naquela manhã ela se tornaria a Menina que Vendia Fósforos, morta por hipotermia em um beco da periferia.

2 comentários:

Laís Thalles disse...

poderia fazer um livro em cima disso.

Veronica Rodrigues disse...

Também acho hein hein hein hahahaha
bom final de semana.