Conheci o abismo chamado "Saudade", de imediato inconforma-se, depois encontra uma resposta simples: Vingança. Não me interessa quem ou o quê causou tamanha tragédia, apenas sei que pretendo destruir todo e qualquer um que colaborou para que a mesma acontecesse.
Mudei meu trajeto para um destino indesejado, precisava saber porque, eu necessitava desta maldita resposta. Conversei com meu pai e minha mãe, ambos em condições mentais deploráveis, e fui, procurar meu martírio em um corpo de boneca, frio e rígido. Ela estava calma, em paz, mas eu fervilhava em revolta, procurando alguém para culpar. Troquei palavras com alguns policiais e passei a noite no necrotério, esperando o laudo do legista.
-"Bom, terminei, tenho algumas informações e talvez a causa da morte." Ele disse com certo pesar. Olhei em seus olhos e ele fugia, talvez tentando não encarar meu inferno astral.
-"Encontrei lacerações nos lábios internos e sêmen, havia água nos pulmões, o que indica que a causa morte foi afogamento."
Gritos e mais gritos, meu pai chorava e minha mãe desmaiou. Minha pequena era minha meia-irmã, outra cria paterna, mas era minha carne e meu sangue, meu bibelô com rosto angelical. Se chamava Lígia, filha de uma vagabunda qualquer, mas era meu querubim.
Apenas conosco estava a avó materna, a mãe havia ido ao hospital, teve uma série de problemas após encontrá-la naquele estado. Quem ficara para cuidar da minha menina era o namorado, que só depois eu descobri ser um ex-condenado de estupro e roubos. Após o acontecido ele sumira no mundo.
De todos, eu era o calmo, estava iludido no torpor, arquitetando minha vingança. Saí, conversei com mais policiais, eles tinham a descrição do fugitivo e prometeram prende-lo. Não se eu o pegasse antes.
Saí e liguei para alguns conhecidos, contatos antigos, que iriam me ajudar a caçar, eu encontraria aquele homem, ou melhor, aquele lixo, nem que eu tivesse que queimar a cidade inteira. Eles vieram logo em seguida, três carros, quinze dos meus melhores amigos, todos sedentos por justiça, e eu, por vingança.
Esta parte de minha vida pode ser definida por uma palavra: Monstro. Foi exatamente o que eu havia me tornado, buscando insáciavelmente a alma de apenas uma pessoa. Não era suficiente privá-lo do livre arbítrio, nem mesmo uma morte rápida, minha dor não permitiria.
Passei em casa para me preparar, armando esquemas e criando estratégias, somente para minha guerra pessoal. Vasculhamos toda a cidade, casa por casa, bairo a bairro, falando com moradores e pessoas comuns, de traficantes a policiais aposentados, todos unidos em minha iniciativa, compartilhando meu rancor. Em duas horas, ele foi encontrado e acorrentado à um poste, cuja localização me foi passada. Comigo estavam dois amigos, irmãos para mim, que entendiam meu transtorno.
Ela era meu lado bom, meu mundo, queria um futuro para ela, queria que vivesse sem experimentar os desgostos da vida, ansiava por seus sorrisos todos os dias. Mas tudo foi destruído, com apenas oito anos ela foi estuprada e assassinada por um verme, que vive à margem da sociedade, um lixo conduzido pela burocracia e erroneamente liberto por crimes capitais. Até agora.
Saí do carro e caminhei até ele, eu estava calmo, nada se passava em minha mente, apenas ouvia os gritos de desespero e arrpendimento falsificado. Parei e olhei em seus olhos, duas poças de castanho escuro, objetos de meu ódio mais profundo.
-"Porque fez isso com minha irmã?"
-"Eu não fiz nada, sou inocente." Ele berrava, uma multidão me incentivava a erradicá-lo.
-"Só tinha você lá, seu sêmen foi encontrado nela." Minha garganta fechou, era como tentar engolir uma bola de tênis, nada passava e meus olhos se enchiam.
-"Quer a verdade? Eu fiz mesmo, fodi com ela, fiz ela gritar, cada lágrima que ela derramava me deixava com mais tesão, quando enjoei daquele choro chato, resolvi ensinar ela a nadar." Ele disse sorrindo pra mim, um sorriso maldoso e provocador.
Meu mundo se fechou em escuridão, as vozes se calaram e eu sentia o calor da ira. Em minhas veias corria o mais denso pretróleo, incendiado pela loucura que emergia daquele sorriso, que logo estava estampado em meu rosto.
-"Obrigado, sem isso eu não seria capaz de continuar." Eu disse, virando para o carro.
Caminhei lentamente, aproveitando cada segundo daquilo, abri o porta-malas e peguei meu equipamento, guardado em uma mochila de viagem.
Joguei a mala no chão e o som do metal colidindo ecoou, todos olhavam atentos, procurando entender o que eu pretendia fazer. O que se passou a partir deste ponto, eu chamo de "Violência".
3 comentários:
lendo seu texto,Impossível não conseguir sentir e entender metade dessa ira ! =x
É triste..e quando você lê, sente a ira por dentro te dominar.
quem lê compartilha da mesma raia e da mesma sede de vingança!
:*
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