Me vesti e fui. No caminho pensei em passar no posto de gasolina, comprar mais cigarros pois a noite seria longa. Lá, vejo antigos amigos, agora jogados às drogas e subvida na classe média. Passei por eles como se não conhecesse, foi recíproco.
Em poucos minutos preenchi meu estoque e estava pronto para ir, sentei no carro e fiz uma breve reflexão sobre minha vida. Não é agradável perceber que seus dias se resumem ao trabalho incessante, mesmo que compensador e realizador, inerte em uma rotina burguesa. Numa temporada de suicídios, eu era o único disposto a viver para o amanhã, porém este nunca chegava. Engraçado como muitas vezes, apenas o "ter" se tornava tão satisfatório e empolgante, quando em outros dias, assim como hoje, me faltava o "ser". Quando percebi, estava parado no ponto de encontro, perdido em pensamentos, mergulhando em uma introspecção quase cancerígena. Perdi a noção do tempo, observei o sol se retirar ao horizonte e a brasa queimar com o passar das horas.
Finalmente, quando ela chegou, resolvemos falar sobre futílidades e capitalismo emocional. Assuntos que eram ligados com outros e quase em ciclo contínuo, atrapalhados apenas por pausas calculadas e beijos demorados. Ao final, uma promessa incomum e esperanças descontroladas geraram o clima posterior. Peguei meu carro, levei-a para sua casa e resolvi pegar um caminho mais longo, fui pela praia. Ao passar pelas quebras de onda, resolvi sentar e procurar paz.
Lá sentado, observava as cores. O vermelho agitado, lutando contra o resistente azul, que nem se movia, o cinza do céu apenas como espectador, enquanto uma revolta poética acontecia ao meu redor. Fiquei lá por uma hora e quarenta minutos, ouvindo minhas músicas e entornando uma garrafa de conhaque, dose por dose. Me embebedei, dormi dentro do carro, acordei com frio, estava mais sóbrio e tomei o caminho de meu lar.
No caminho recebi uma ligação desesperada de meu pai, não conseguia formar sentenças inteligíveis, mas o conteúdo principal me abstraiu de análises posteriores. Lembro dessas palavras passarem pelo meu corpo como pedras de gelo, arrepiando minha pele e congelando meu coração. Naquele momento eu sabia que algo estava mudando, ali, parte de mim morreu. Ás vezes é fácil perder a noção de tudo com apenas um acontecimento, quando simplesmente não tem opções. Logo que você aceita como uma sina comum, tudo deixa de ser tão apavorante, mas em poucas situações, tudo ao seu redor cai aos pedaços e você se perde. Tenho para mim que todo ser humano tem uma jóia dentro de sí, uma dádiva raríssima e sem preço, que brilha como o sol no interior de nosso ser. Quando deixamos nosso coração morrer, perdendo todo o amor que estava nele, esta jóia perde o brilho completamente. Alguns chamam isso de alma, mas nem todos acreditam no pós-vida. Sou um deles.
Mágoa e rancor se espalham como um vírus e acabam por corromper nossas almas, tornando-nos fracos e frágeis, enquanto parecemos barreiras intransponíveis e fortalezas imaculadas. Algo mudou naquela noite, apenas pude sentir a dor.
Tudo em apenas 3 malditas palavras.
Mágoa e rancor se espalham como um vírus e acabam por corromper nossas almas, tornando-nos fracos e frágeis, enquanto parecemos barreiras intransponíveis e fortalezas imaculadas. Algo mudou naquela noite, apenas pude sentir a dor.
Tudo em apenas 3 malditas palavras.
-"...Tua irmã morreu..."
2 comentários:
Triste... Mas sempre com uma combinação bonita de palavras.
Você é foda.
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