Superfície.

Hoje decidi que seria diferente, deixaria a poesia de lado e escreveria sobre a vida. Resolvi então que, nada mais simples que um sonho comum.

"Ela acordou, gritou comigo e acendeu um cigarro. Eu não pude evitar e sorri, ela é tão linda, mesmo com raiva de mim. Me chamou de puto e desgraçado enquanto eu ria na cama, não acordamos no horario pra alguma coisa, eu nem ligava, cada minuto com ela era especial.
Muda o cenário e eu estou com minha ex-namorada num ponto de ônibus, ela vai embora e eu fico observando sem reagir, sem sentir, como um boneco. Ela chega denovo, linda e graciosa, vomitando todo seu ódio sobre mim. Acordei."

Pena que é tudo mentira. Não sonhei essa noite, foi apenas o escuro, profundo e absoluto.
Era como estar no espaço, mas sem estrelas e planetas, apenas o infinito para qualquer direção, sem fazer nenhuma diferença. Ultimamente nada faz diferença, nem abala. Fumar, pensar, ponderar, sonhar, viver, rir, sonhar, fumar e, finalmente, desmaiar. Volto ao meu abismo pessoal, mas não sei o que fazer. Poderia ficar aqui sentado e não fazer nada ou poderia me jogar de cabeça, mas não tenho motivos para nenhum dos dois. Tudo o que quero é isso, uma motivação.

Mais tarde eu crio um poema ou uma história. Por agora, só um desabafo exausto e inútil.