Cigarro.

Acendi um gudang, sentei no chão e recostei no muro. Não fazia a menor idéia de onde estava, mas me sentia feliz.
Feliz por cada tragada que arranhava a garganta, contente por soltar a fumaça pra cima e ver ela se desfazer no ar. Estava longe de casa e a única coisa que levei comigo de lá foi esse maço.
Não sei quantos sobraram, chuto que uns 13. Mas isso não importa, eu apenas vou continuar observando a dança estranha e ritmada das cinzas. Esse véu acinzentado que se move com tanta leveza ao redor de mim, que leva minha mente a lugares em que nunca ousaria ir sozinha.
No bolso, o recipiente vazio, o isqueiro arranhado e a carta que não entreguei. Logo, a carta juntava-se ás cinzas do meu cigarro.
Acendi outro, ainda me sobravam 12, de acordo com meu chute.
Uma estrela caiu, talvez isso seja uma coincidência ou um sinal.
Não ligo.
Sentia dificuldade em respirar, mas isso me deixava feliz.
Logo comecei a ficar cansado, com frio, e não sentia mais meu braço esquerdo. Mas é assim mesmo que tem que ser.
Fechei meus olhos e a última coisa de que me lembro foi o aroma do meu gudang.

E a Estrela se apagou.