Céu.

Mais um conto.

Céu.

Hoje eu acordei como nos outros dias, decepcionado. Minha vida é uma decepção, em certos pontos, pois eu quero que ela seja assim, talvez. É o que me dizem, que basta querer que tudo muda.
Será mesmo? Muitas coisas na vida dependem de terceiros, infelizmente. Para você trabalhar e obter uma renda, precisa que outro alguém o contrate e pague.
Não gosto dessa dependência das pessoas com a comodidade, elas não decidem mudar nada, gostam de como está, mesmo reclamando de tudo o tempo todo. Realmente, hoje não é um bom dia. Sol, odeio ele, meus dias perfeitos são nublados, com ventos fortes e chuvas, nada melhor.
Talvez se ela ainda estivesse aqui, talvez assim seria melhor, eu acho. Não me lembro mais de como era a "Alegria", o que é estranho, pois vivo rindo, de tudo. O Mundo é uma piada pra mim, uma grande piada, contada todos os dias de uma maneira diferente e cada vez mais patética. Eu preciso sair daqui.
Um céu cinza tinge o presságio, esses animais correm para seus abrigos, com medo de algo que não podem controlar, medo de algo maior. Eu não, gosto disso, da sensação de liberdade, ao passo que não posso fugir de suas lágrimas. Sempre tão doces, sempre tão puras, algo que ser humano algum seria capaz de produzir.
Perdi uma pessoa importante hoje, alguém que faz diferença, unicamente por um dos meus muitos erros. E nem mesmo consigo pedir desculpas, estou esgotado, farto de sentimentos, cansado de me importar.
Eu quero sair daqui.
Os dias não passam, não acabam logo, para que assim eu possa me livrar de tudo isso, me livrar de minhas obrigações com a "sociedade".
Honestamente? O que mais desejo é que tudo isso queime, as casas, as pessoas, os prédios, lojas, carros, crianças. Quero ouvir seus gritos desesperados, quero sentir o terror e presenciar a morte de cada um deles, cada pai amoroso que estupra sua querida filha quando estão sozinhos, cada namorado perfeito que desmembra a companheira por uma briga, cada esposa dedicada que trai o marido enquanto ele vai trabalhar. Esta maravilhosa sociedade, da qual todos se orgulham, menos eu.
Mais e mais pesadelos, estou perdendo o controle, não sei até quando irei reprimir esses devaneios.
Um dia, esse vazio, este maldito buraco, vai ser preenchido com o prazer de destruir tudo isso. E nesse dia, o meu céu perfeito vai seguir lentamente do prata ao carmesim.